Nesta sexta (30), o G1 mostra como os pecuaristas lutam para manter o gado vivo e como convivem diarimente com o "cemitério de animais" a céu aberto. No Sertão da Paraíba, o agricultor ainda tira do pouco que tem para alimentar o gado, com os já escassos mandacaru e palma, dando aos animais para beber até mesmo água de esgoto. Apesar das dificuldades, o trabalhador não desiste da vida no campo.
Antônio Silva viu seus animais morrerem de sede e de fome na Paraíba (Foto: Taiguara Rangel/G1)
O G1 viajou 1,5 mil quilômetros cortando o interior da Paraíba, percorreu 7 cidades e acompanhou o sofrimento de paraibanos que enfrentam uma das piores secas dos últimos 30 anos. Na Paraíba, a seca atinge mais de 2 milhões de pessoas em 195 municípios que estão há quase um ano em situação de emergência.
O agricultor Antônio da Silva Sousa, de 46 anos, mora na zona rural de Monteiro, Cariri paraibano, e perdeu seis cabeças de gado nos últimos meses. “Já tirei toda a palma e mandacaru, não tem mais. O gado não resiste, está morrendo. Não conseguimos plantar nada. Antes produzia 70 litros de leite por dia, agora não conseguimos nem 10 litros. Às vezes saio de madrugada sem sono e acabo adormecendo perto deles no pasto, já não sei mais o que fazer. Quando morre algum eu coloco na carroça e levo para outro lugar para não arrastar e judiar o corpo dele”, contou o agricultor.
"Às vezes acabo adormecendo com os animais no
pasto. Não sei mais o que fazer", diz Antônio Silva
(Foto: Taiguara Rangel/G1)
pasto. Não sei mais o que fazer", diz Antônio Silva
(Foto: Taiguara Rangel/G1)
Ainda no município, agricultores de toda a região 'depositam' o gado morto em uma área conhecida como um cemitério de animais, que já contabiliza cerca de 40 corpos. No sítio Pai Jânio, zona rural de Pedra Branca, o agricultor Jânio Nazário, de 65 anos, tira dinheiro da aposentadoria para manter o gado. Mesmo assim, duas vacas morreram este ano. “Só ganho R$ 0,82 por cada litro de leite e produzo 15 litros por dia. Gasto R$ 200 por mês da minha aposentadoria só com o sustento deles, não tenho nenhum lucro”, disse.
O alimento do gado de José Nazário é mandacaru e
ração de milho (Foto: Taiguara Rangel/G1)
ração de milho (Foto: Taiguara Rangel/G1)
O racionamento na distribuição de grãos para o gado vem sendo praticado desde julho nos armazéns da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) na Paraíba. Nos dois pólos do órgão no Cariri e Sertão do estado, o G1 constatou filas diárias de até 120 pessoas para conseguir, na maioria das vezes, uma única saca de ração para os animais.
No Cariri paraibano, mais 1,8 mil pessoas são atendidas pela Conab (Foto: Taiguara Rangel/G1)
“Desde setembro espero por uma única saca que dura apenas dois ou três dias. Estou aqui desde 1h da manhã, já é a terceira vez que venho aqui nesse mês. Eles dizem que não tem o suficiente. Aqui custa R$ 18,10 e na feira custa R$ 55 cada saca, então a gente tem que pagar porque as vacas estão morrendo de fome”, disse o criador Geraldo Sávio, 42 anos, após conseguir sair do armazém depois de nove horas de espera, por volta das 10h (horário local).
Segundo o gerente local, Givanildo Batista, está havendo um racionamento com sistema de rodízio para conseguir atender toda a demanda. “O rodízio e realizado por dia e por cidade, 60 atendimentos em cada dia. Eles são cadastrados e fizemos esse calendário porque tem racionamento, senão não daria para ajudar todo mundo”, disse.
Estradas do Sertão e do Cariri formam cemitérios
a céu aberto (Foto: Taiguara Rangel/G1)
a céu aberto (Foto: Taiguara Rangel/G1)
Para o superintendente da Conab na Paraíba, Gustavo Guimarães, o racionamento está sendo necessário e ainda não tem data para ser encerrado. Apenas o armazém do órgão em João Pessoa está distribuindo ração sem restrições no programa 'Venda em Balcão Especial'. “Contamos com 15 mil cadastrados no estado e prorrogamos o programa até fevereiro de 2013, projetando manter três novos postos avançados de distribuição no Sertão. Esperamos o restabelecimento do nosso estoque e temos que racionar, senão vai faltar para todos”, afirmou.
De acordo com a direção do Comitê Integrado de Combate à Seca na Paraíba, existe uma meta de distribuir 19 mil toneladas de ração animal até o final de novembro, com prioridade para o Sertão e Cariri. A Secretaria de Estado da Infraestrutura afirmou que está investindo mais de R$ 3 milhões na restauração de poços artesianos, enquanto o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) Estiagem repassou este ano recursos de R$ 24 milhões a agricultores familiares da Paraíba.
Sem ração e sem água, os animais acabam vagando até morrerem (Foto: Taiguara Rangel/G1)
G1 PB
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